Fala galera, beleza? Perdi a contas de quantas vezes recebi o seguinte comentário nos conteúdos publicados no Instagram e YouTube: "O carro elétrico já morreu três vezes, essa é a quarta vez". Até cansei de tentar esclarecer o contexto do corte, mas não adianta falar quando a pessoa não quer ouvir.
Entretanto, outro corte muito usado me inspirou a escrever esse texto. Trata-se de um corte do canal "Opinião Sincera" dizendo que carros elétricos caminham para se tornarem obsoletos rapidamente. Preciso admitir que estão corretos.
Então quer dizer que não vale a pena comprar um carro elétrico porque será inutilizado em pouco tempo? Não, muito pelo contrário. Tanto que, pouco tempo depois, um dos integrantes do canal comprou seu BYD Dolphin, compartilhou uma viagem de 1.200 km e, mais recentemente, mostrou como usou o carro para ligar a geladeira durante a falta de luz em Porto Alegre.
Vamos fazer um pequena analogia: A Apple lança todos os anos novos modelos de celular, mas isso não impede as pessoas de comprarem o aparelho. Inclusive, nada te impede de comprar um aparelho de versão mais antiga.
Com os carros elétricos não é diferente, afinal estamos falando de produtos que recebem constantes investimentos de desenvolvimento e sucessivos lançamentos. Nem só de bateria é feito um carro elétrico, mas por se tratar do elemento mais lembrado, vamos começar por ela.
O primeira carro elétrico vendido para consumidor final no Brasil foi o BMW i3 há quase 10 anos atrás com uma bateria de 21,6 kWh que proporcionava um autonomia de 130 km. Em 2024, já contamos com diversos modelos que oferecem autonomias muito superiores a 400 km de autonomia.
Mas para mantermos a comparação justa, considerarei os veículos de valor equivalente aos dias atuais. Outro ponto importante é que o BMW i3 tinha a autonomia divulgada conforme o EPA ou WLTP, mas os carros atuais são mensurados de acordo com o PBEV (a pior hipótese possível para a autonomia de carro elétrico).
Atualizando o valor de lançamento do BMW i3 por R$225.950,00 pela inflação de 09/2014 até 01/2024, temos o valor de R$464.871,95. Com este valor, você consegue comprar um Ford Mustang Mach-e com 379 km de autonomia e bateria de 91 kWh. Se você quiser um carro menos esportivo e mais luxuoso, pode comprar uma Mercedes-Benz EQA com 304 km de autonomia e 66,5 kWh por um investimento um pouco maior: R$480.000,00.
É claro que também podemos apostar em novas tecnologias com o preço ainda mais acessível. O BYD Dolphin Plus vendido por R$180.000,00 traz uma bateria de 60 kWh de capacidade, 330 km de autonomia usando o ciclo PBEV e custaria R$87.480,00 em relação ao valor equivalente a 2014.
Além dos tamanhos e das baterias e da eficiência energética, temos a evolução da potência de carregamento e o tempo necessário para carregar as baterias cada vez maiores. Um carro lançado em 2018 apresentava uma capacidade de armazenar por volta de 125 Wh por cada quilo de bateria. De acordo com a CATL, sua bateria Qilin tem a capacidade de armazenar 255 Wh a cada quilo de bateria graças a um blend de células com químicas diferentes em um mesmo pack.
Para entenderem como a evolução será cada vez mais acelerada, no mesmo evento que apresentou a Qilin, a CATL também divulgou o projeto da próxima geração que terá a capacidade de armazenamento praticamente dobrada, com 500 Wh por quilo de bateria.
As baterias com capacidades energéticas maiores também permitem carregamento mais rápido. Até 2019, não havia necessidade de carregadores com potência superior a 50 kW, pois nenhum carro comercializado no Brasil carregaria acima disso. Hoje é possível observar uma média de 60 kW de potência nos veículos de "entrada" e mais de 150 kW de potência para veículos com preço inferior a R$300.000,00.
Uma pergunta bem direta, quantos MJ conseguiram aumentar em 1 litro de etanol desde o projeto Pró-ácool? Essa é uma pergunta sincera, pois eu não encontrei a informação. Sei do trabalho da Embrapa para aumentar a produtividade e do desenvolvimento das montadoras para produzir motores mais eficientes. Mas o Etanol continua o mesmo desde então e ainda é menos eficiente a gasolina, visto que todo mundo que tem carro flex sabe de cabeça a conta de 70%.
Eu entendo o desconforto de algumas pessoas que se sentem "enganadas" porque compram um carro hoje que custará até R$100.000,00 a menos em pouco tempo. Entretanto, é importante entender que o nosso ponto de referência é um mercado que só conhecia o motor à combustão, ensaiava anos para lançar um carro novo e, quando atualizava algo, geralmente se resumia a um Facelift, quanto mais o lançamento de novas tecnologias.
Um exemplo de diferença do tempo de maturação: observe o tempo entre a adoção dos carburadores, injeção eletrônica e a injeção direta para a diferença das baterias de NMC para as baterias de LFP e as baterias de íons de sódio. Não há como esperar que veículos elétricos apresentem o mesmo ritmo de evolução que um carro à combustão. Fatalmente, seu carro atual será considerado desatualizado em breve.
É importante ressaltar que os carros de hoje somente possuem a tecnologia e os preços atuais devido a evolução gradativa. Não dá para pular etapas, mas duvido que alguém deixaria de comprar um celular Sony Ericsson Walkman com rádio FM em 2007 se soubesse que em 2024 teríamos celulares com streaming de vídeos.
Outro ponto importante, desatualizado é muito diferente de inútil ou inviável. O carro de hoje continuará sendo útil por muitos anos, mesmo que não seja o mais moderno. Afinal, as necessidades de cada pessoa são atendidas de formas diferentes.
Mais uma analogia: ninguém deixaria de comprar um iPhone 15 hoje porque sabe que no ano que vem será lançado o iPhone 16, a diferença que algumas pessoas poderão comprar o modelo novo no ano de lançamento, outras comprarão quando estiver saindo de linha e ainda sim atenderá sua necessidade. Na pior das hipóteses, você ficará babando por novidades e sonhando com a próximo geração de carros.
Até mais.
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