Corpo de Bombeiros apresenta Parecer Técnico sobre vagas de carregamento
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Corpo de Bombeiros apresenta Parecer Técnico sobre vagas de carregamento

Atualizado: 24 de abr.

Fala galera, beleza? Eu não sei vocês, mas estou ainda tentado digerir a divulgação preliminar do Parecer Técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo a respeito das vagas de carregamento para veículos elétricos. Mas se você ainda não sabe sobre o que estou falando, quero contar toda a história.


Desde a publicação de uma matéria na Folha sobre a exigência que o Corpo de Bombeiros faria para os prédios com carregadores de veículos elétricos, diversos condomínios entraram em estado de alerta. Mesmo o Corpo de Bombeiros sendo uma instituição Estadual, administradoras e condomínios do Brasil inteiro começaram a disparar comunicados que aguardariam a definição antes de avançarem na discussão sobre novas instalações.


Comunicado Tibério sobre carregadores
Comunicado Tibério sobre carregadores

Mas essa história ficou em banho maria até poucos dias atrás. Por uma incrível coincidência, fiz uma live no YouTube com a equipe que trabalhou na cobertura do E-Prix São Paulo 2024 de Fórmula E. A ideia inicial da live era falar sobre as características de incêndio e combate em veículos elétricos com o objetivo de desmitificar o perigo imputado pela mídia e redes sociais à bateria de alta tensão.


Para a minha surpresa, a conversa acabou migrando para o material técnico ainda não divulgado com bastante informações que se confirmaram posteriormente. Não por acaso, visto que a equipe em questão trabalha de forma muito próxima com os oficiais que escreveram o Parecer Técnico.


Desde a noite da última quinta-feira não dormi direito, refletindo sobre os pontos apresentados na live. Mas a manhã seguinte traria uma dor de cabeça ainda maior. Logo pela manhã fui consultar o Diário Oficial do Estado de São Paulo e lá estava o "bendito" parecer no caderno de Suplementos.


As surpresas começam pelo prazo de contribuição indicado do Parecer para Consulta Pública e sugestões com envio exclusivamente por e-mail, apenas 30 dias contados a partir da divulgação. Outra confusão em relação ao documento é a data de divulgação, pois a publicação aconteceu no dia 05/04/2024, mas a assinatura do documento é datada de 02/04/2024.


O segundo ponto que gerou certa estranheza das pessoas que consultaram o documento foi a falta de indicação de material científico, testes e material de consulta para balizar o Parecer Técnico. Para não ser leviano, há a menção a dois materiais de consulta: NFPA 855 que trata de sistemas de armazenamento de energia estacionário e NFPA 88A que trata sobre estrutura de estacionamentos.


O mais interessante é que a NFPA 88A traz apenas uma citação ao termo "Electric Vehicle" e ainda se refere ao direcionamento da NFPA 70 que trata Código Elétrico Nacional nos Estados Unidos.


O próprio Parecer Técnico diz no item 2.1.6 que não há regulamentação específica em âmbito nacional ou mesmo globalmente.


Por obra do destino, o presidente da ABRAVEi Rogério Markiewicz estava acompanhado do diretor Clemente Gauer em um dos principais eventos sobre Mobilidade Elétrica do mundo. O Nordic EV Summit que reuniu as maiores autoridades sobre Mobilidade Elétrica e permitiu a exposição da proposta do Corpo de Bombeiros Paulista. Posso afirmar que a reação de todas as pessoas consultadas foi de perplexidade e inconformismo, inclusive da Emma Sutcliffe, diretora de projetos da EV FireSafe.


Mas afinal, quais foram as sugestões feitas pelo Corpo de Bombeiros? Prefiro que cada um acesse o Diário Oficial e faça sua própria consulta.



Entretanto posso adiantar alguns itens:


  • Distância mínima de 5 metros de uma vaga de carregamento das demais vagas.

  • Parede Corta Fogo

  • Sistema de Sprinkler (chuveiro automático)

  • Sistema de Detecção de Fumaça

  • Extintores Pó ABC

  • Sistema de Ventilação Mecânica


Vale ressaltar que as sugestões não seriam apenas para as novas instalações, mas para todas as instalações com o prazo máximo de 1 ano para adequação. Não preciso nem dizer que inviabilizaria a maioria dos novos projetos e até mesmo de vagas já instaladas.


Imagino que você está pensando os carro elétrico deveria ser considerado uma bomba sobre rodas, certo? Bem, vamos conversar sobre o assunto.


Para começar, não há dados oficiais sobre ocorrências de incêndio em carros elétricos no Brasil. Não quer dizer que não aconteceram, mas não há material para consulta. Logo não há como avaliar se o risco é realmente tão grande quanto o proposto. Convenhamos, se tivesse acontecido algum acidente desta natureza, com certeza haveria pelo menos alguma matéria na mídia.


Bem, então devem haver milhares de registros no mundo para trazer todo esse temor para o Brasil conforme a frota de veículos elétricos cresce, talvez uma "epidemia" de incêndios. Registros existem, mas passam bem longe da casa dos milhares. Para ser mais exato, a EV FireSafe identificou apenas 488 em nível global entre os anos de 2010 e 2023, sendo apenas 393 casos confirmados, 74 em investigação e 21 não confirmados.



O ano com o maior registro de incêndios em veículos leves não chegou nem a 125 casos no mundo inteiro, isso por que apenas no ano de 2022 foram vendidos mais de 10 milhões de veículos elétricos e 14 milhões no ano de 2023.


Outro ponto interessante que foi levantado é que esse cuidado todo sugerido restringe especificamente às vagas de carregamento, supondo que é o momento que a bateria de alta tensão sofreria maior stress e superaquecimento. Até faria sentido, mas o números registrados apontam para apenas 20% dos casos (18% durante o carregamento e 2% dentro do período de 1 hora).


Ah, então o problema dever ser enquanto dirige o carro que é mais perigoso. Também não é, pois apenas 29% dos casos aconteceram durante sua condução. Gostei muito de uma analogia feito engenheiro Ricardo Takahira em uma matéria que li no portal Uol:


Isso tudo leva a crer que vários acontecimentos comprometeram esse carro que pegou fogo nos EUA, parecido com os fatos sucessivos que desencadeiam um acidente de avião.

Em resumo, semelhantemente ao desastre aéreo, o incêndio em um veículo elétrico dificilmente será causado por uma única falha. Seria necessário uma cadeia de acontecimentos para chegar ao sinistro.



Ok, então não ocorreram tantos casos, mas ainda assim deve ser muito perigoso, afinal a bateria pode explodir, não é? Sim, mas as coletas de dados apresentaram apenas 5% de ocorrências com explosão.


Certo, mas o Corpo de Bombeiros de São Paulo não tomaria uma medida tão restritiva se outros países não apresentassem o mesmo receio ou cuidado. Será?


Para ficar bem claro como países mais avançados lidam com as vagas de carregamento em edifícios, assista o breve vídeo abaixo gravado em Oslo, na Noruega.



De fato o Corpo de Bombeiros abriu consulta pública para sugestões de melhorias à Norma que inevitavelmente sairá. Não sou contra uma Norma Técnica, desde que ela seja construtiva e aplicável. O problema é que o estrago já foi feito e será um prato cheio para os detratores da Mobilidade Elétrica.


Usarão esse parecer original como a "prova" do risco e que qualquer coisa que saia mais branda será fruto de lobby da multinacionais chinesas. Eu poderia dizer o mesmo em relação ao Parecer original, mas não teria provas de que certas marcas que querem emplacar seu veículos híbridos flex a todo custo possam ter qualquer ação efetiva na demonização proposital contra os veículos elétricos.


Nem mesmo que o Estado que pegou um PL para incentivo aos veículos elétricos e transformou em um PL de incentivo a adoção do Etanol como a principal fonte de energia da frota estadual tenha determinado criar barreiras para as pessoas que desejassem ter um veículo 100% elétrico. Afinal, seria um absurdo.


A questão é que os oficiais que assinaram o documento deveriam demonstrar de forma técnica e científica a justificativa de tais sugestões diante de Associações nacionais e internacionais e dos Conselhos que estão questionando Parecer apresentando.


Além disso, será necessário apresentar uma forma de como aplicar as próprias sugestões em casos não observados inicialmente como em empresas de ônibus da cidade de São Paulo e empresas de logística que adotaram de forma ampla os veículos elétricos em suas frotas operacionais.


Ah, é importante lembrar que a lei municipal de São Paulo exige os novos empreendimentos (comerciais e residenciais) ofereçam solução de carregamento para veículos elétricos.


Agora, cabe a sociedade civil e os profissionais da área se organizarem e entregar sugestões para que não seja aprovado nada além do que realmente é necessário e justificável. Entretanto, deixou também um questionamento: Se o risco é tão grande como o Parecer deixo entender, como os Grupamentos de Bombeiros estão se preparando para atuar?


Até mais.

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