Fala galera, beleza? Confesso que eu estava um pouco ausente com relação aos meus textos devido a correria do dia a dia. Espero compensar com o conteúdo da vez. O texto foi inspirado pelos comentários recebidos em um conteúdo publicado no Instagram que já teve quase 2 milhões de visualizações. Trata-se de um vídeo que fiz durante uma viagem em dezembro de 2023 que, durante uma parada em uma estação de carregamento, chegou um caminhão Volvo FM 100% elétrico utilizado pela LZN Logística no transporte da Citrosuco.
O vídeo não traz defesa ou ataque a nenhuma tecnologia. Apenas mostra um veículo inusitado no Brasil e comento que é utilizado para fazer a rota entra a cidade de Matão/SP e o porto de Santos/SP. O vídeo contou com mais de 52.000 curtidas e mais de 1.500 comentários. O ponto principal é que a maior parte dos comentários foram de pessoas criticando o veículo e fazendo pouco caso devido ao tempo necessário para a recarga do veículo.
Obviamente, a maior parte dos comentários eram de pessoas detratoras e que possuem pouca ou nenhuma afinidade com a mobilidade elétrica. Todavia, seria negligência ignorarmos essas opiniões antes de analisar. Gostaria de trazer as minha considerações sobre as principais críticas observadas.
O carro elétrico é muito mais caro
De fato o carro elétrico era muito mais caro que seus equivalentes fumacentos, mas já não é mais a realidade, graças ao advento da invasão de marcas chinesas. Tanto que a ANFAVEA tem atuado de uma forma quase que exclusiva para impedir a entrada desses veículos ao invés de lutar pela viabilidade de produção nacional.
O carro elétrico pega mais fogo
Essa é minha fakenews favorita. Não tem como estar mais errado. Diversos estudos internacionais apontam que os veículos à combustão apresentam 60 vezes mais casos de incêndio que os veículos elétricos considerando uma amostra a cada 100.000 veículos. Mesmo em relação a emissão de calor em caso de incêndio, é falso que os veículos elétricos emitem mais calor que os veículos à combustão atuais.
Demora muito para carregar e tem pouca autonomia
Juntei essas duas alegações em uma só porque a resposta para ambas é a mesma. A cada novo modelo lançado, os veículos apresentam maior eficiência energética e células mais resistentes, resultando em autonomias maiores e menor tempo de carregamento.
O Brasil não tem ponto de carregamento
Melhor que ontem, pior que amanhã. Apesar de não termos uma base de dados oficial, é possível observar o crescimento constante. Atualmente, de acordo a ABVE, temos aproximadamente 4.500 pontos em todo o Brasil. Conforme os dados obtidos do SENATRAN, o Brasil já atingiu mais de 70.000 automóveis elétricos (sem considerar os veículos de carga, ônibus e motos). Isso significa 15 automóveis para cada carregador.
Apesar de não entender essa necessidade de dirigir por milhares de quilômetros, já é possível cruzar o Brasil de Norte a Sul com o um carro elétrico, mas não por todas as rotas. Se formos observar os aplicativos como PlugShare, é possível observar que a rede de carregamento acompanha os registros de emplacamento dos veículos elétricos por região. Sendo assim, não considero que seja um problema, e sim algo a ser trabalhado.
O Brasil precisa acelerar o desenvolvimento de sua infraestrutura de carregamento, pois os veículos elétricos continuam chegando e as pessoas desejam usar cada vez mais. Se um dia o veículo elétrico foi definido como uma opção urbana e segundo carro, hoje ele é o único carro da família para muitos e ainda utilizado como ferramenta de trabalho. Voltando para o título do texto, de quem seria a culpa pelo atraso do desenvolvimento da nossa infraestrutura de carregamento?
Para avaliarmos de uma forma correta, precisamos separar os ambientes entre privado e público. Para os casos de ambientes privados, estamos passando por momentos turbulentos causados por uma normativa que nunca foi publicada, mas tem gente jura de pé junto que sim. No caso do locais públicos, principalmente carregadores de potência maior, esses esbarram em dois pontos:
Custo de implantação
Quando falamos de carregadores DC (carga rápida), não é absurdo falarmos de investimento superior a R$1 Milhão entre equipamentos e infraestrutura. Não se trata de um investimento baixo se formos considerar o tempo de retorno do investimento. Mesmo assim, temos muitas pessoas interessadas e com capacidade para bancar os projetos. Desde as próprias montadoras, como Volvo, BYD e GWM até empresas do mercado de energia.
De uma forma mais profissional, surgiram as empresas de mobilidade elétrica que atuam exclusivamente na implantação e gestão dos pontos de carregamento. Digamos que seriam como as redes de postos de combustível, mas que podem atender seus clientes em diversos tipos de estabelecimentos comerciais com seu equipamentos por não trazer risco de contaminação ao solo ou risco de explosão ambiental que observamos nos postos de combustível.
Demanda de energia
Primeiramente, entenda como Demanda de Energia a potência disponível para um determinado local. Não falo da quantidade, mas a força imediata que é entregue. Essa força é medida em kW ou kVA, mas o mais importante é você entender que consiste força imediata, como um "soco elétrico". É aqui a maior pedra que precisa ser movida a cada nova instalação.
Diferentemente do que os haters profissionais balbuciam pela internet, o Brasil não sofre de falta de energia, no caso, falta de produção. O gargalo está na ligação dos imóveis à rede de energia. Se você precisar de um transformador mais potente para seu local, boa sorte. Dificilmente as distribuidoras locais te atenderam dentro do prazo legal definido pela ANEEL, pois a distribuidora pode alegar que a rede local não suporta o aumento da demanda e exigirá melhoria para a oferta.
Agora, avalie o quão preocupante é isso. Não é somente a mobilidade elétrica que sofre, mas toda a sociedade brasileira. Se queremos deixar para trás a imagem de meros exportadores de matéria prima, a indústria nacional precisa ser cada vez mais forte. Contundo, como a indústria será forte, sem potência? E quando falo de potência, sim, falo de potência elétrica.
Volto a afirmar, nosso gargalo não está na produção e sim na distribuição, pois até as usinas micro geradoras padecem do mesmo problema. Elas não possuem uma infraestrutura robusta o suficiente para injetar energia na rede.
A solução não é fácil, mas existe...
O ideal seria que o governo trabalhasse de uma forma que as distribuidoras modernizassem suas redes para atender o crescimento constante da demanda de carga. Mas seria muita inocência imaginar que isso possa acontecer a curto prazo. Então, o funil é estreito e torna-se vital a condição de oferta imediata de energia no local, ou seja, já dentro do imóvel.
Algumas empresas estão viabilizando maior potência para seus carregadores através de BESS (Battery Energy Storage System). Trata-se de um banco de baterias que armazena a energia dentro da unidade consumidora, permitindo entregar o "soco elétrico" que o transformador do poste não pode fornecer.
Algumas empresas como a Moura em parceria com a CPFL, a BYD e mesmo empresas de energia solar começaram atuar dessa forma. Assim você pode contornar o atraso que a infraestrutura brasileira impõem a sociedade. Além da possibilidade de oferta potência dentro do imóvel, o BESS permite que a energia produzida em excesso durante o dia, pode ser consumida durante a noite. O uso de BESS é a solução para nossos problemas? Talvez não para a maioria, mas é uma possibilidade que pode e dever ser explorada.
Até mais
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