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Carregamento "dado" não se olha os dentes.

Hub de Carregamento em Cajamar
Hub de Carregamento em Cajamar

Fala galera, beleza? Tenho impressão que já falei algumas vezes, mas vale a pena reafirmar: "quando cheguei na mobilidade elétrica, isso aqui era tudo mato..." Brincadeiras à parte, quando recebi meu JAC iEV40 em outubro de 2019, a infraestrutura de carregamento era muito mais escassa que atualmente.


Me considero até abençoado em comparação com os desbravadores que vieram antes de mim, pois peguei uma fase em que já era possível fazer o uso de carregadores em diversos centros comerciais e redes de supermercados. Além dos carregadores na cidade, já havia condição de fazer viagens entre algumas cidades por conta de ações de marketing de montadoras em parceria com redes de postos e distribuidoras de energia.


Além das campanhas de marketing, havia também projetos de Pesquisa e Desenvolvimento com verba da Chamada 22 da ANEEL. A Chamada 22 foi muito importante para interligação de diversos centros urbanos e a eletrificação das principais rodovias do Brasil.


Cada novo carregador instalado era acompanhado de uma festa. A inauguração era comemorada com demanda quase que imediata e, em alguns casos, com fila de espera. Mas não pense que a galera chegava no carregador e ficava irritado por ter que aguardar na fila, era mais uma oportunidade de desbravar novos caminhos e fazer novas amizades.


Outra característica marcante dos primeiros carregadores era que não havia cobrança do usuário para "renovar suas energias" no meio de sua viagem. Por volta de 2021, a curva de vendas de veículos no Brasil apresentou um crescimento surpreende até para os mais otimistas.


Por conta disso, foi possível observar um novo perfil de usuários: aquele que contava com o carregamento "grátis", mas que não se conformava em aguardar um tempo maior que o necessário para carregar. Para quem chegou depois, quando já havia uma estrutura minimamente aceitável, é absurdo ter que aguardar para carregar.


Mas como garantir que a ampliação da infraestrutura de recarga de forma consistente e no mesmo ritmo da venda dos carros? Será que as montadoras são obrigadas à instalar pontos de carregamento? Como usuário, eu digo que seria excelente, mas sei que seria uma utopia imaginar que as montadoras sustentassem a infraestrutura de carregamento de um país como o Brasil.


Empresas como a Volvo, BMW, Audi, Porsche, VW foram pioneiras e garantiram um ponta pé inicial. Todavia, o mercado delas é vender carro, não serviço de energia. Paremos para refletir: Existe alguma rede de postos de abastecimentos mantida por alguma montadora? Eu desconheço. Por que com o carro elétrico deveria ser diferente?


Empresas como a Tesla e Nio são exceção à regra. Ambas vendem muito mais que um carro elétrico, elas vendem um conceito, uma experiência que somente seus consumidores poderão usufruir de forma integral.


Volvo e BYD trabalham de forma mais "democrática" fomentando a infraestrutura de carregamento para "quase" todos os consumidores. Não que eles bloqueiem o uso dos veículos das montadoras, mas o veículo que desejar usar seus carregadores deve ser, pelo menos, compatível com o padrão europeu de carregamento.


Entretanto, "bancar" a infraestrutura de carregamento não significa bancar a energia de recarga para o resto da vida. A BYD e GWM optaram por fechar parcerias com empresas do setor e oferecem como benefício aos seus clientes no momento da venda um crédito de energia por tempo ou quantidade determinada. Mas nada é de graça, alguém está pagando por isso.


A Volvo é a única montadora no Brasil que está estruturando uma rede de recarga com mais de 100 locais indicados sem previsão de cobrança pela recarga. Entretanto, até quando esse modelo pode ser considerado sustentável? Em algum momento a operação será paga e diversas pessoas "mal acostumadas" irão reclamar muito.


Outra situação que é importante refletirmos: Se você tiver na região dois pontos de carregamento, um pago e outro grátis, em qual você daria prioridade para se deslocar? Pela minha experiência, eu sugiro que vá para o pago por 2 motivos: maior probabilidade de que o carregador estará disponível e maior probabilidade de ter um suporte técnico, caso necessite.


Não posso negar que todo mundo gosta de uma cortesia, mas quanto você está disposto a pagar por uma cortesia? Entendam que, quando me refiro em pagar, não falo em dinheiro, falo em tempo, perfil de uso ou qualquer outra informação que a empresa possa considerar valiosa.


Já presenciei por diversas vezes filas de vários carros em um ponto sem cobrança enquanto havia um carregador disponível para quem estava disposto a pagar. Ainda afirmou que os valores cobrados estão longe se serem considerados abusivos, visto que, ao custo de R$2,50 por kWh consumido, o valor do km rodado ainda fica mais barato que em comparação com o preço da gasolina.


Sou à favor do carregamento pago, tanto por uso quanto por assinatura, por dois motivos:


Direito do Consumidor - A partir do momento que o carregamento é considerado um serviço, o usuário possui direitos previstos em lei.

Concorrência - Quando há um ambiente de negócios, mais empresas estarão dispostas a prestar serviço, aumentando a oferta e gerando competitividade entre elas. Essa competitividade será o fator primordial para melhoria constante na prestação de serviço e até em relação a oferta de preços.


Veja como exemplo a rota da Anhanguera/Bandeirantes que possui em torno de 15 locais diferentes para carregamento em Corrente Contínua. Esses locais pertencem ou são administrados por empresas diversas, como variedade de equipamentos e valores. Diria eu que é a rota brasileira com o maior ambiente de oferta de serviços de carregamento.


Por conta desse ambiente de competitividade, foi possível observar o surgimento do conceito de Hub de Carregamento em rodovia nas cidade de Santa Rita do Passa Quatro e Cajamar pela empresa Go Electric com uma oferta de diversas máquinas e variedade de plugs de carregamento, garantido que qualquer veículo 100% elétrico comercializado no Brasil consiga carregar em Corrente Contínua.


Trata-se de um modelo de operação que desejo que seja copiado pelas demais empresas, mas isso não seria possível sem a visão de serviço sobre o carregamento de veículo elétrico. Se o abastecimento de veículos à combustão fossem "cortesia", quantas redes de postos de combustível existiriam no Brasil?


Afinal, o carregamento sem cobrança irá acabar um dia? Duvido muito, mas creio que ficará restrito a uma cortesia ou parte de algum serviço oferecido na compra do veículo, semelhantemente a revisões gratuitas, 1 ano seguro e até assistência por um determinado tempo.


No caso de um serviço, fazem parte de uma negociação os direitos e deveres de ambas as partes. Quanto à cortesia, fica limitado à disponibilidade momentânea, não há como exigir que a cortesia seja fornecida. Quando falamos de deslocamento, principalmente rodoviário, não dá para depender de cortesia para prosseguir a viagem.


E o governo? Não entra na brincadeira? Em minha humilde opinião, o governo deve ficar restrito a regulamentação, políticas de incentivo e autorização para exploração dos serviços em locais públicos, mas deixar por conta das empresas estruturação e operação dos pontos de carregamento.


Seja uma montadora, uma distribuidora de energia ou uma empresa com finalidade exclusiva de explorar o carregamento, mas que seja um serviço. Afinal, Carregamento "dado" não se olha os dentes, mas também não adianta reclamar pelo carregador desligado.


Até mais.

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